Sem ela, não existiríamos sequer. Não conseguiríamos fazer tantas coisas, desde observar o Universo quando era jovem a cirurgias a laser aos olhos.
A Assembleia Geral das Nações
Unidas acaba de proclamar 2015 como o Ano Internacional da Luz, para celebrar a
luz como matéria da ciência e do desenvolvimento tecnológico. Portugal não
esteve entre os 35 países que apoiaram a proposta, que foi aprovada sem voto –
informa o astrofísico português Pedro Russo, da Universidade de Leiden, na
Holanda, e um dos conselheiros da coordenação global do Ano Internacional da
luz.
A ideia deste ano
foi liderada pelo México, e entre os 35 países que apoiaram a proposta
encontram-se o Chile, Israel, Nova Zelândia, Rússia, Sri Lanka, Estados Unidos,
China, Cuba ou a Ucrânia. O objectivo é promover o conhecimento sobre o papel
essencial que a luz desempenha nas nossas vidas e assinalar, como refere a
resolução aprovada pela Assembleia Geral da ONU, algumas datas científicas
importantes, que coincidentemente fazem aniversários “redondos” nessa altura.
Em 2015,
completam-se 100 anos da teoria da relatividade geral, de Albert Einstein. E os
110 anos da explicação do efeito fotoeléctrico, também de Einstein e que lhe
valeu o Nobel da Física de 1921, anunciado no ano seguinte (neste efeito, um
fotão – uma partícula de luz –, ao incidir sobre certos metais, arranca
electrões que aí se encontram). Outra data, entre outras: em 2015 comemoram-se
os 50 anos da descoberta da radiação cósmica de fundo, a radiação emitida no
Big Bang (ocorrido há 13.800 milhões de anos) e que banha todo o Universo. Por
esta descoberta, os norte-americanos Arno Penzias e Robert Wilson ganharam o
Nobel da Física em 1978.
“Um Ano
Internacional da Luz é uma oportunidade tremenda para garantir que os decisores
políticos tomam consciência dos problemas que a tecnologia da luz pode
resolver”, sublinhou o presidente da comissão para a celebração do Ano
Internacional da Luz, John Dudley. “A fotónica fornece soluções de baixo custo
para desafios que se colocam em várias áreas: energia, desenvolvimento
sustentável, alterações climáticas, saúde, comunicações e agricultura. Por
exemplo, soluções inovadoras na área da iluminação reduzem o consumo de energia
e o impacto ambiental, ao mesmo tempo que minimizam a poluição luminosa, para
que todos possamos apreciar a beleza do Universo num céu escuro”, acrescentou
John Dudley, citado num comunicado da Sociedade Internacional para a Óptica e a
Fotónica (esta é a ciência ligada ao processamento e à detecção de sinais de
luz).
“A luz dá-nos a
vida através da fotossíntese, deixa-nos ver para trás no tempo em direcção ao
Big Bang cósmico e ajuda-nos a comunicar com outros seres vivos sencientes aqui
na Terra – e talvez com outros no espaço exterior, caso os encontremos”, notou
por sua vez o cientista da NASA John Mather, premiado com o Nobel da Física de
2006 (juntamente com George Smoot), pelos seus trabalhos no satélite Cobe, que
permitiu ver em detalhe a radiação cósmica de fundo quando o Universo tinha 300
mil anos, como até aí não tínhamos conseguido. “Einstein estudou a luz ao
desenvolver a teoria da relatividade, quando acreditou que as leis da natureza
que nos dão a luz deveriam certamente ser verdadeiras, independentemente da
velocidade a que a luz se desloque. Agora sabemos que até os electrões e os
protões se comportam de forma semelhante a ondas de luz, de maneiras que
continuam a espantar-nos. E as tecnologias ópticas e fotónicas desenvolvidas
para a exploração do espaço deram-nos muitas aplicações válidas na vida
quotidiana.”
Este aspecto da
luz como essencial à nossa própria existência é também sublinhado por outro
laureado com o Nobel: “A civilização não existiria sem a luz – a luz do nosso
Sol e a luz dos lasers que agora se tornaram uma parte importante das nossas
vidas quotidianas, desde as leituras [das embalagens] nos supermercados até às
cirurgias oftalmológicas e as tecnologias de informação usadas nas comunicações
ao longo dos oceanos”, diz o egípcio Ahmed Zewail, que ganhou o Nobel em 1999
pelos seus trabalhos na área da femtoquímica (que estuda as reacções químicas a
escalas temporais extremamente curtas).