Alimentos básicos com preços altos na próxima década
por Lusa,
publicado por Ana Meireles, Diário de Notícias, 2012/8/28
O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e a Alimentação (FAO), José Graziano da Silva, avisou que os preços
agrícolas vão continuar altos na próxima década e recomendou a criação de
reservas nacionais de alimentos básicos.
"Para garantir a segurança alimentar e enfrentar o aumento dos
preços, cada país deveria constituir reservas que cubram as suas necessidades
entre uma semana a um mês", afirmou o diretor-geral da FAO numa entrevista
ao jornal Le Monde publicada hoje.
Apesar do contexto difícil, Graziano da Silva considerou que a situação
atual é "totalmente diferente" do que aconteceu em 2007-08, quando
surgiram conflitos provocados pela fome em vários países.
Entre os fatores essenciais para a estabilidade, o diretor da organização
apontou a estabilidade do arroz e a importância dos 'stocks'.
"Dois terços das pessoas que a FAO considera encontrarem-se em situação
de insegurança alimentar vivem na Ásia e dependem do arroz para a sua
alimentação", precisou.
Perante os elevados preços que atingiram produtos como o trigo e o milho,
Graziano da Silva pediu "mais flexibilidade" e que deixe de se
utilizar o milho e as oleaginosas para produzir biocombustíveis.
Questionado sobre se devem acabar os incentivos aos biocombustíveis,
considerou que não por que farão falta no futuro, quando se desenvolverem os
"de segunda e terceira geração", produtos que não usam cereais e não
competem com os cultivos destinados à alimentação.
Elogiou ainda a iniciativa sul-coreana de criar um imposto para as
transações de futuros e de produtos derivados a fim de lutar contra a
especulação de curto prazo, com venda de contratos que foram comprados no mesmo
dia.
"Esse é o tipo de especulação que devemos evitar em períodos como o
atual. O objetivo não é intervir nos mercados, mas impor uma certa disciplina
aos comportamentos especulativos", justificou.
Assinalou também que a coordenação internacional "melhorou
sensivelmente", sobretudo graças ao Sistema de Informação sobre os
Mercados Agrícolas (SIMA) criado pelo G20, sob presidência francesa, que
"deve permitir evitar os movimentos de pânico e as decisões
unilaterais".